A sexta-feira mais negra de todas: descanse em paz João Gustavo Santos !

Dia 23 de novembro de 2012. Sexta-feira negra, ou black friday, como chamam os americanos, é a sexta-feira seguinte ao feriado de Ação de Graças. Mundialmente conhecida como um data onde o comercio em geral oferece os melhores descontos do ano. Porém, esta sexta-feira negra não foi de compras nem de descontos. Não foi de alegria, nem de consumo. Ao Contrário. Marcou a despedida de um grande amigo, um irmão, João Gustavo Santos, nosso querido Gus. Depois de 5 meses em uma batalha incessante contra a Leucemia, ele finalmente descansou. Uma batalha dolorosa, que ele aguentou com a alegria de sempre, sem nunca reclamar ou questionar. Para os seus amigos, a imagem era sempre boa e a mensagem positiva, não importava seu estado. E foi assim até o final.

Conheci o Gus no trabalho, enquanto ele trabalhava com um outro grande amigo meu, o Fernando Knack. Sentávamos perto, e isso foi o suficiente para conhecer a primeira grande característica do Gus: ele era muito expansivo e fazia amizades facilmente. Como ele gostava muito de conversar, e eu também, acabamos estreitando relações, sempre falando de carreira, objetivos, projetos e conhecimentos. Me impressionava como ele sabia falar de praticamente tudo. Lia bastante, era bem informado. Mas ao mesmo tempo que detinha o conhecimento, era uma pessoa muito humilde, que se colocava sempre na posição de ouvinte.

E assim o tempo foi passando, e o Gus passou a fazer parte de uma equipe que trabalhava comigo. Participou de um programa no qual eu era seu mentor, e obviamente demonstrou seu brilhantismo. A partir deste momento nossa amizade já era enorme, e o respeito entre ambos idem. Nos admirávamos, cada um as qualidades do outro. E como bons amigos, discutíamos também nossos defeitos. Eu sempre dizia pra ele que com as qualificações e a experiência dele, ele poderia estar numa posição muito melhor profissionalmente, mas ele desdenhava disso com aquele sorriso e o bom humor de sempre. No fundo, ele tinha receito de por em risco sua família. Ele prezava muito seu emprego, e queria sempre ter certeza que nunca faltaria nada pra eles. Isso as vezes o impedia de arriscar, mas acabei conseguindo convence-lo a embarcar em outra jornada, e assim tivemos a oportunidade de viver grandes momentos num projeto que fizemos no Chile.

Foi durante este projeto que minha esposa, Camila, que também trabalha na mesma empresa, acabou também conhecendo o Gus e se encantando com ele. Não só com ele, mas a família dele. Desde o primeira vez que encontramos o Gabriel, ele se apaixonou pela Camila, e pelo jeito criança dela. Na verdade, Gus e Camila são crianças crescidas. Por isso se davam tão bem. E como o Gabriel é apaixonado pelo pai, acabou criando outra paixão pela Camila.

Viajamos juntos pra Santiago, e no final de semana Camila se juntou a nós, e ao resto do pessoal. Foi uma viagem inesquecível, onde passamos momento maravilhosos, com pessoas idem. Alugamos uma van, e lá se foram 8 pessoas juntas passeando pela cidade e fora da cidade. Ali pudemos conhecer um pouco mais do Gus pessoa. Convivemos por 2 semanas, como se fossemos uma imensa família.

 Depois desta viagem, como estávamos num mesmo projeto e com as mesmas rotinas, quase sempre almoçávamos juntos, voltávamos juntos pra casa, e muitas vezes parávamos na volta para comer. Nossa, o Gus era um comilão. Se chamássemos ele pra comer, a resposta era sempre positiva. Íamos uma vez pro semana no La Mole e outra no rodízio de pizzas da Parmê. Muitas vezes, o jantar era apenas uma pretexto para continuarmos juntos, conversando, trocando ideias, fazendo planos. E essa troca é que fazia dele um ser humano especial. Ouvia como poucos. E quando falava, naquele ritmo manso, lento e as vezes despretensioso, era sempre muito valioso. Sua posição da vida era sempre sustentada pelo seu conhecimento religioso. Era espantoso como alguém relativamente jovem, mostrava a maturidade e a experiência encontrada em pessoas que viveram muito mais tempo. Mas talvez essa era uma de suas missões aqui na Terra.

Após o fim do projeto, ele foi transferido para outro área, em outro escritório, e passamos a nos ver menos. Sua carreira teve uma ascensão, e ele estava muito feliz com o que vinha fazendo. Estava viajando bastante, e na ultima de suas viagens, estava num cliente em Buenos Aires quando começou a passar mal. Eram os primeiro sintomas da Leucemia, que ele veio a diagnosticar quando voltou e foi a um hospital. Me lembro bem quando o Gabriel através do facebook disse que o pai estava internado. Liguei pro Gus, e ele não quis explicar o que estava acontecendo, só pediu pra irmos visita-lo. E assim fizemos. Ao chegar lá, recebemos a notícia da doença, do tratamento. Ficamos chocados. Mas ao mesmo tempo, apesar do peso da situação, a forma com que o Gus reagiu a tudo, foi espantosa. Na verdade, nunca vamos saber até que ponto nosso amigo entendia os problemas e os traduzia para todos na forma de sorrisos. O fato é que estava sempre otimista, em relação a tudo, e desta vez não seria diferente.

Tentamos de todas as formas ajuda-lo a fazer deste período no hospital, o menos traumático possível. No início, vendo o Gus tão bem e disposto, custamos a acreditar que ele tivesse algo de errado. E nossa fé no tratamento era imensa. Em determinado momento, pensamos que a cura era certa. Acreditamos nisso, como ele também acreditava. E a cura, no final, não veio. Veio sim, um novo projeto para sua alma. A de fazer o céu mais feliz. Querido amigo, que você continue iluminado e evoluindo cada vez mais nesta nova etapa. E que Deus nos dê forças para aceitar esta separação tão precoce, mas que já estava escrita nos desígnios de Deus.

Descanse em paz, João Gustavo Martins do Santos.